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João Casalatina | 14/02/2025
A política de tarifas adotada por Trump é o oposto do conceito disruptivo de governo. No primeiro mandato, o Brasil já foi alvo de taxações do presidente, inclusive para os aços produzidos aqui. Portanto, não podemos considerar uma surpresa a recente divulgação da tarifação de 25% para a importação de aço.
O passado embora não dite o futuro, pode nos dar dicas. Na época, as taxações de Trump ao aço brasileiro não duraram muito tempo, pois foram concedidas cotas a alguns parceiros comerciais específicos.
Neste segundo mandato, ao que tudo indica, a estratégia segue sem muitas novidades. Impor tarifas a segmentos base da indústria (como o aço), e de forma genérica a todos os produtos de determinadas origens (como China) cria barreiras de massa, permitindo que no futuro essas barreiras não mais existam para alguns poucos escolhidos a dedo.
Seria leviano pensar que o protecionismo de Trump é infundado, vazio ou com foco exclusivamente no desenvolvimento da indústria doméstica. Muito pelo contrário, o protecionismo de Trump cria dificuldades para vender facilidades a um público muito seleto.
Não é de se espantar que em tamanho caos econômico algumas economias sofram mais que outras, logo, as reações são as mais distintas. Alguns países trazem retaliações tarifárias, outros optam pela negociação, outros pela neutralidade ou inércia. A Argentina, por exemplo, se mostrou clara em seu posicionamento: renunciarão a sua cadeira no Mercosul para estar ao lado do governo norte-americano, se assim for necessário. O México e o Canadá, em contrapartida, adotaram medidas retaliativas. O Brasil optou pela neutralidade e inércia. Não há evidências suficientes ou estabilidade suficiente para se opinar sobre qual o melhor cenário, portanto, cabe aos governos olharem para dentro de casa, analisar os segmentos da indústria que dominam seu PIB e, a partir disso, refletir sobre a postura a se adotar em meio a esta guerra global de tarifas.
Sendo assim, um alerta: não sejamos pegos de surpresa por movimentos de pulverização e expansão de acordos comerciais – que vem sendo constantemente acelerados após a eleição de Trump – com efeitos práticos nulos ou que se desfaçam no esquecimento do tempo em prol da predileção de poucas (porém influentes) indústrias escolhidas a dedo para fornecimento ao mercado consumidor norte-americano.
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